A sala estava escura, o ar frio e úmido. Ficava no subsolo,
o chão e parede de pedras ciclópicas. Gotas de água pingavam de canos que
percorriam o teto. Em alguns cantos se via a terra lutando contra as pedras
para ocupar espaço.
Estava cheio de gente, a maioria do próprio governo. Comissionados,
os reputados DAS, a nata da burocracia federal. Aliados do Executivo, amigos e
parentes, convivas de décadas passadas, que agora vestiam suas roupas formais e
comiam salgados finos após essas reuniões.
Estavam ali para a encenação oficial. A presidenta logo iria
dar o anúncio formal. A medida foi uma sacada do corpo técnico do Ministério da
Fazenda, em coordenação com o Banco Central. Uma elite com credenciais
científicas para tais medidas, mas que só três semanas antes teve o estalo que
levou até essa sala escura e úmida. ]
A presidenta se sentou, seguida por seus assessores mais
próximos, papagaios-mudos. Ouviu-se uma tosse, de um senhor de meio século,
alto funcionário do BNDES. No mais, todos estavam com uma melancolia de
ressaca. O ânimo do anúncio já tinha se extinguido há alguns dias, e a sala
escura não criava expectativas.
O microfone chiou. Deu-se uma batidinha de conserto, seguida
por uma leve tosse de reparo de voz. O som presidencial ocupou as caixas de som
do ambiente, as gotas d'água ficaram mudas. E houve o anúncio:
- Inauguramos o
Programa Mais Burocratas. Importaremos servidores públicos chineses.