O que dá um tom científico a um certo texto (doravante chamarei de mensagem) ? E o que o torna "político"? Para responder, convém imaginar as duas noções como tipos: uma mensagem pode conter os dois elementos em intensidades diferentes. O que será explicado a seguir deve estar acompanhado da ciência desse caráter de tipo.
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Uma mensagem científica é aquela que planeja ser igualmente válida para todos. O
emissor da mensagem científica intenciona transmitir significados que, dentro
de seu quadro de referência
(isso é muito importante), possam ser compreendidos e aceitos por aqueles
com o mínimo necessário de inteligência.
Quadro de referência: entender uma mensagem científica exige situá-la em um contexto maior que
poderíamos chamar de rede de
mensagens, que interagem entre si anulando o significado das outras e
conferindo um significado particular a si mesma. Qualquer coisa, para fazer
sentido, precisa invocar essa rede em que se encontra. Uma das redes
principais, costumamos chamar de linguagem.
Exemplo: a água, na química, é chamada de H2O. Para que
faça sentido chamar a
água de H2O necessitamos invocar, ao menos parcialmente, o quadro de referência
(composto por símbolos, códigos, conceitos, etc.) da química. Esse quadro pode
até estar relacionado com outros quadros, como o do idioma (latim, português,
grego, etc.), o da matemática, da biologia, da física, etc.
O que importa é, julgar alguma mensagem como científica
invoca necessariamente relacioná-la com o "ambiente semântico" em que
ela está enquadrada, a rede de mensagens que utilizam o mesmo quadro de
referência, e sem extrapolar o campo. Daí vem
muitas críticas às mensagens científicas: de raciocínios que envolvem um
determinado conteúdo científico com quadros de referência que não lhe
pertencem (o "mundo real" é a referência mais comum na hora de
extrapolar!)
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A mensagem política é aquela que expressa uma convicção, crença ou
opinião que causa divergências
quanto a sua validade. Mesmo que seu emissor acredite que está
expressando a “verdade”, ou em outras palavras uma mensagem científica, a existência
de divergências já mostra que há uma cor política envolvendo o assunto.
Tais divergências não necessariamente encobrem apenas o conteúdo
da mensagem, mas podem envolver o continente (aquilo que contém o conteúdo, ou
seja, o mensageiro). Por exemplo, quando um candidato a reitor discorre sobre
problemas que estão abalando sua universidade, pode-se questionar a qualidade
de tais problemas, uma vez que o candidato pode estar sendo estratégico, “manipulando
os fatos para benefício próprio”.
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Como eu disse no início, as
duas características se entrelaçam em muitas mensagens. De certa forma, toda
mensagem científica tem um tom político, ao menos em seu passado: sua validade ao menos em um momento exigiu
a construção de um consenso sobre seu quadro de referência. Isso reflete a
situação existencial humana, na qual nós temos que “criar essências” para
nortear nosso dia a dia.
A política precede a ciência,
mas quanto mais civilizados somos, mais apaziguada é essa precessão.
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