segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Novas direções

Estou abandonando, por prazo indefinido, as postagens no blog. Optei por continuar minha escrita livre no papel, já que encontrei uma caneta maravilhosa.
O blog talvez um dia volte à ativa, porém espero colocar minhas escritas mais novas no site que compartilho com dois amigos.
Tenho vários rascunhos neste blog, que nunca foram publicados. Espero que continue um acervo para o futuro, para que um dia eu reveja tudo e aprimore e publique. Como era aquele ditado mesmo? "O bom filho à casa retorna".

Enfim, para quem quiser ler mais coisas por mim escritas, favor visitar

www.eskhaton.com.br

O site também possui conteúdo em vídeo e traduções de contos e artigos em espanhol e inglês.

Chicago
Fevereiro de 2017

quarta-feira, 1 de junho de 2016

Política no Brasil

Política no Brasil é como um jogo Fla x Flu. A torcida (ou seja, o povo) está atenta ao time que torce. São fervorosos em relação ao time que tomam como partido. No entanto, ninguém reparou que compraram ingressos pro espetáculo errado. Não é futebol. É algo parecido, mas com várias regras ruins, que deixam o jogo algo obsoleto. O futebol não flui. Mas ninguém repara: estão apenas torcendo para o time que escolheram, sem ver que as regras é que estão erradas.

(Inspirado por esse excelente texto do Mercado Popular)

"Precisamos falar sobre os impostos.
Não se trata de um tema menor, ou de interesse apenas dos ricos. Caso a carga tributária do Brasil fosse transformada em dias, o brasileiro teria trabalhado (em média) de 1 de janeiro até hoje para financiar o setor público.
Com frequência, circulam na internet alguns memes indicando que a carga tributária brasileira não é tão alta assim. Alguns apontam para a regressividade dos tributos, que de fato pesam mais aos mais pobres. Outros dizem que países europeus e ricos cobram mais impostos e que, por isso, deveríamos seguir o exemplo.
O fato é que a carga tributária do Brasil tem quase todos os defeitos possíveis, dentre eles a injustiça e o peso. Os países europeus e ricos geralmente citados só passaram a cobrar mais impostos depois de se desenvolverem em relação ao resto do mundo, quando os custos dessa decisão eram completamente diferentes e incomparáveis ao caso brasileiro.
Achou que os problemas eram poucos? A complexidade burocrática, um mal talvez ainda mais danoso, possivelmente é a maior do mundo. Um levantamento do Banco Mundial coloca o Brasil como o país onde mais se gasta tempo apenas para saber como os impostos devem ser pagos. A gente gasta mais horas do que o segundo, terceiro e quarto colocados nesse ranking, somados.
Como se não bastasse, apesar disso tudo, o governo não consegue fazer o orçamento caber na arrecadação, gerando crises como a atual.
Acha pouco? Pois o governo ainda se mostra um péssimo gestor do seu dinheiro. A despesa pública com educação é um ótimo exemplo. No mundo, poucos países gastam tanto quanto o Brasil, e poucos tem resultados tão ruins, mesmo quando observamos apenas os emergentes e outros com o mesmo nível de renda do brasileiro. Acima dos vastos gastos, a ineficiência reina.
Cite um pecado que um governo pode cometer ao taxar e gastar a renda dos seus cidadãos, e é provável que o governo brasileiro o cometa. O debate público, repleto de ideias malucas e distorções estatísticas, tenta convencer de que se trata apenas de um detalhe. Infelizmente, não é o caso.
Nós certamente precisamos falar sobre impostos antes que seja tarde demais. Inclusive porque já está tarde demais.
Pedro Augusto Menezes, editor deste Mercado Popular"

terça-feira, 3 de maio de 2016

Aceleração do entretenimento

Ontem, na CBN, escutei um youtuber chamado Felipe Castanhari falando sobre entretenimento. O Youtube, disse, é muito diferente do modo tevê/rádio de criar conteúdo para entreter. E citou como exemplo seu primo de oito anos, já um youtubeiro.

O menino assiste aos vídeos com a seta do mouse em cima do botão X da aba do navegador: ele quer apenas uma razão para fechar o vídeo. Se há uma pausa, um mísero momento de "zero-entretenimento", ele fecha a janela.

Castanhari diz que esse é um dos aspectos diferenciais de vídeos do Youtube: há muitos cortes para minimizar as pausas e comprimir ao máximo o conteúdo naquilo que seria relevante.

Sinceramente, para mim isso é algo preocupante. Tem a ver com um assunto que já escrevi anteriormente: as pessoas querem se divertir o tempo todo, e ignoram a necessidade da chatice e frustração na construção do caráter. Errando que se aprende tem sua versão no entretenimento: às vezes a diversão está em andar por um caminho difícil, penoso, para depois ser premiado. Isto é divertido também!

Não sei se há de fato uma acentuação do fenômeno. É apenas uma impressão: as pessoas estão cada vez mais folgadas, querendo tudo de mão beijada. Posso estar enganado; mas isso parece uma consequência lógica da modernização, afinal, se a dificuldade gera o esforço, a facilidade deve gerar algo contrário. Não?

Costumo ser cético quanto a essas percepções. "O mundo não é mais o mesmo." "As pessoas estão mudadas." "Tá tudo diferente."Vejo com maus olhos, apesar de haver estudos confiáveis. Mesmo que haja essa aceleração da vida, que deixa os jovens menos concentrados, indispostos a ficar 30 minutos pensando num assunto e perdendo rapidamente o interesse por algo que desviou um pouquinho da rota da diversão, enfim, mesmo que haja isso, ainda há jogos como Dark Souls, que exigem uma paciência de Jó. E fazem sucesso.

Mesmo que estejamos na era da aceleração, ainda temos aqueles que veem na dificuldade e superação uma fonte de entretenimento, quiçá superior a todas as outras.

segunda-feira, 28 de março de 2016

O néctar do Brasil: compadre Quelemém

Ao final de Grande Sertão: Veredas, temos uma dose cabal de brasilidade, veiculada na saída de Riobaldo à pergunta tormentória que circulava pela sua vida havia um bom tempo: Havia ele vendido a alma ao Diabo?
A esta perturbação, vemo-la escorrida perante a sabedoria de compadre Quelemém, que desanuviou Riobaldo. Mire veja a cena:

Compadre meu Quelemém me hospedou, deixou meu contar minha história inteira. Como vi que ele me olhava com aquela enorme paciência - calma de que minha dor passasse ; e que podia esperar muito longo tempo. O que vendo, tive vergonha, assaz.
Mas, por fim, eu tomei coragem, e tudo perguntei:
---"O senhor acha que a minha alma eu vendi, pactário?"
Então ele sorriu, o pronto sincero, e me vale me respondeu:
---"Tem cisma não. Pensa para diante. Comprar ou vender, às vezes, são as ações que são as quase iguais..."


Riobaldo se livrou do overthinking, esta autocoação (que o sociólogo Norbert Elias associa ao processo civilizador) bem mais característica de povos europeus que dos terra brasilisA brasilidade da conduta de Riobaldo segue por esse livramento de uma questão trouxa: Fez pacto com o Diabo? Conversa mole, rapaz, vá viver sua vida e deixe disso, moço! O brasileiríssimo deste enlace final e climático, está não na resolução da questão, mas na sua desconstrução! Para o bem e para o mal, nós, brasileiros, somos menos propensos a nos deixar ser conduzidos por uma tábua de valores (no caso de Riobaldo, o cristianismo folclórico). É de fato uma faca de dois gumes. No caso de GSV, dispõe-se de forma épica. 

Um dos melhores livros brasileiros, sem dúvida.

sexta-feira, 18 de março de 2016

Futuro sistema de concursos

Quiçá um dia virá quando a última etapa do sistema de seleção de servidores será o "leilão holandês", isto é, um leilão invertido entre os aprovados nas etapas anteriores.

Os aprovados nas avaliações de competência ao cargo disputarão quem está mais disposto a ganhar menos para exercer a função. Princípio da eficiência econômica.

Cabe um problema: quem decidirá quais são as competências mínimas para o exercício do cargo? A pontuação mínima para ser aprovado? Certamente haverá uma politização da questão, as Bancas Avaliadoras, por exemplo, poderão subir hiperbolicamente a nota de corte, para garantir a aprovação do crème de la crème, somente.

Solução meio que de ficção científica sombria: coloquem pessoas já dentro do órgão para fazer as provas. A média de pontuação será a nota de corte. Se eles já estão lá e tiram em média x, significa que aquele x é suficiente para exercer o ofício. Sim? Não?

sexta-feira, 11 de março de 2016

Escravidão e concurso público

Um dos problemas econômicos principais da escravidão é seu alto risco: os escravos eram muito caros, e por causa disso apenas forneciam um retorno em longo prazo. Isto é, o lucro do trabalho escravo vinha muito depois de se ter pago quantias elevadas por aquele ser humano.
O risco vem de, afora exigir um capital inicial muito alto para gastar nos escravos, a produtividade poderia não compensar, o "trabalhador" poderia morrer cedo, fugir, ser um rebelde, etc.

Neste sentido, a mão de obra assalariada é muito mais eficiente e contributiva para o desenvolvimento econômico--exige menos investimento inicial, fornecendo lucro de forma mais rápida, e é possível demitir funcionários quando seus custos não estão compensando o retorno adquirido.

O concursado não se encaixa nessa apreensão: ao recrutar funcionários dessa forma, o governo está se comprometendo por décadas a pagar uma quantidade x àquele indivíduo. Pela vigente Constituição, não é possível passar a pagar menos ou demitir os improdutivos. É um custo obrigatório. "Haja o que hajar", os soldos devem ser pagos e até mesmo reajustados conforme inflação.

Escravidão e concurso público têm isso em comum: antes de garantir um retorno, é necessário firmar um compromisso enorme, que pode implicar em sérios prejuízos. Perversamente, as duas práticas vitimizam a parcela mais sofrida da sociedade: outrora escravos, submetidos a uma desumanização inconteste; hoje os mais pobres (em sua maioria negros), que são quem mais sente o peso de impostos, muito usados para sustentar ricos burocratas.

sexta-feira, 4 de março de 2016

Sobre a pós-ironia

Em inglês, na Wikipédia, temos dois verbetes que conduzem ao assunto: Post-Irony e New Sincerity.

É uma ideia bem trabalhada no romance Graça Infinita (Infinite Jest), do qual já comentei aqui alguma vezes. Consiste numa tentativa de recuperação da sinceridade e busca por uma comunicação genuína entre artista e receptor, que caracterizou a arte...bem, desde sempre, até o século XX:

As vanguardas literárias, a partir mais ou menos de 1960 (cf., por exemplo, tudo do Thomas Pynchon e Macunaíma do Mário), passaram a ironizar a realidade, distorcê-la em humor negro que até então era inovador, tanto no âmbito crítico como no estético.

Caçoar da televisão, dos Beatles, de uma parte da cultura brasileira, das intrigas amorosas da classe média (Nelson Rodrigues), etc. foi uma forma de inovar e ao mesmo tempo construir conteúdo significativo a longo prazo.

Mas então, a ironia deixou de ser vanguarda e passou a ser lugar-comum. A vemos na cultura pop banalizada, onipresente. Como usá-la, então, para trazer algo edificante, se tornou-se apenas uma ferramenta de reprodução do entretenimento raso?

A solução vanguardista foi a pós-ironia. Trata-se de conceber o mundo como um lugar irônico, porém buscando uma tentativa de superação desse mar defensivo por meio de espécie de jornada espiritual, de busco do Sentido da Vida. Chamo a ironia de mar defensivo, pois é uma "saída para tudo": é como bancar o idiota: você se torna imune a quaisquer críticas quando não as leva a sério.

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Acaba de vir uma epifania: se a pós-ironia é uma tentativa de superação do mundo irônico, ainda faltam livros que tratam o tema em mais de um personagem, e com os personagens dialogando de forma não irônica. E como será isso? Creio que será algo meio Irmãos Karamázov, mas será interessante ver tal situação operando em um meio irônico. 
Algo do tipo: imagina Dostoiévski cruzando com Hermes e Renato, onde o russo tenha um pouco mais de participação de mentalidade além de ser espécie de "luz no fim do túnel".

Em Graça Infinita, o personagem pós-irônico é Mário Incandenza. E Don Gately. Mas os dois nunca se cruzam...

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Retirei alguns memes que lidam com o tema do ótimo "site de artes/humanas" (estou sendo pós-irônico) The Philosopher's Meme. Falarei mais sobre eles em outro post...



Eis um meme pós-irônico em ação.