Émile Durkheim cunhou o termo "fato social"
Semanas atrás um amigo me contou uma história que achei um belo exemplo
do funcionamento do que
Durkheim chamou de
“
fato social”.
Ele em seus escritos deixou bem claro, assim como outros como
Parsons o fizeram
depois, que existem três dimensões constitutivas do homem: a biológica, a
psíquica e a social. Parsons colocou mais uma, a cultural, mas que para meu
propósito pode ser juntada com a dimensão social. Com isso, quer-se dizer que
orientamos nossas ações em relação a três coisas:
- nosso corpo (comer, ir ao banheiro, dormir)
- nossa cabeça (vontade de sair tomar uma cerveja, pensar no próximo
movimento do jogo de xadrez, lembrar de ligar pra namorada)
- nosso ambiente (nossos costumes, nossa economia)
A sociologia se preocupa com a última (pelo menos antigamente, hoje ela
mistura tudo): com o homem em relação a sua sociedade, o que esta altera
naquele e vice versa. Claro que isso é bem complicado, tem muitas variáveis em jogo. Mas voltando a
Durkheim, ele chamou de “fato social” tudo aquilo que exerce influência no
homem e sua maneira de agir e pensar, e que vem de fora, de sua sociedade.
É genial refletir que muito do fazemos é de caráter “Maria vai com as
outras”, não é mesmo? Quanto será de
nossos prazeres, nossos gostos, nossos interesses, nossos objetivos e crenças
de vida, nossos entusiasmos, nossas tragédias, nossas motivações e nossas ações
existem por causa das outras pessoas? Para a sociologia, é impossível
caracterizar o homem sem estar em relação
com outros homens.
E o caso da UFSCar mostra isso de forma
impressionante:
Em um belo dia de trote de um curso qualquer, os veteranos tramaram o
seguinte: foi feita uma fila de calouros em frente a um banheiro público da
universidade. Entrava um por vez no banheiro, e lá dentro os veteranos ordenavam:
“Coloque sua cabeça dentro da privada e
dê descarga”. Obviamente, o primeiro da fila protestou em frente à situação
absurda. Os veteranos então lhe pediam: “Ok.
Molhe sua cabeça aí na pia, e saia com cara de puto”. A situação se repetiu
com os três seguintes da fila, que saíram com a cabeça molhada e parecendo
bravos, mesmo sem terem se banhado na privada. Incrivelmente (ou não), os
próximos da fila passaram a achar normal
enfiar a cabeça na privada e dar descarga, e assim fizeram. Ninguém mais
questionou (ou poucos o fizeram)!
Eis o fato social agindo: porque
os outros fizeram, um comportamento antes mórbido, doentio, patológico, passou
a ser considerado aceitável, normal, sadio.
CORREÇÃO: como fiquei sabendo, o caso não foi na UFSCar, mas na USP - Ribeirão.