quinta-feira, 3 de outubro de 2013

O erro de Adorno em "Fetichismo na Música"

Liberdade sob a ditadura
Todo o clima de liberdade vivido pela juventude praiana da época rolava em plena ditadura. Enquanto os militares impunham à sociedade diversas restrições, nas faixas de areia a atmosfera era de desbunde, o que pode facilmente ser confundido como alienação. Para o diretor do programa, porém, tudo aquilo era uma forma espontânea de resistência. Mellin cita um comentário do cineasta Pepê Cezar, que colaborou com o projeto, para falar sobre o assunto: “Quer uma forma maior de protesto que um cabeludo sem camisa, de shortinho e prancha colorida, atravessando a rua em direção ao mar em meio à toda aquela formalidade imposta?”
- Aquela turma viveu com liberdade em meio à repressão da ditadura. Mesmo com todos os limites impostos, eles pareciam ter menos restrições até do que a sociedade atual, com a nossa loucura de celular, internet e infinitas contas e compromissos. Tinha-se mais tempo pra tudo, principalmente pra “fazer nada”, pra curtir - argumenta o diretor. - O assunto não é debatido com profundidade no programa, mas a ditadura é citada em alguns momentos, principalmente quando falam do Arpoador e do Pier de Ipanema, lugares muito próximos do asfalto, controlado então pela ditadura, mas que eram também refúgios da repressão.


Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/cultura/revista-da-tv/seriado-aborda-cultura-de-praia-dos-anos-70-sob-olhar-contemporaneo-10223004#ixzz2ghGP0gbL 
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Para Teodoro Adorno, figura conhecida da Teoria Crítica, ou Escola de Frankfurt, o diretor acima está completamente errado. "É alienação!",  diria ele. Seu caso de estudo foi a música, mas seguia o mesmo raciocínio: se entreter é se alienar, por esquecer os problemas que assolam a humanidade.
Mas estaria mesmo o argumento oposto errado? Pra mim e pro diretor do programa, claro que não. Quem está certo, nós ou Adorno?
Resposta: ninguém. Essa pergunta é descabida, pois envolveria cruzar convicções pessoais em um plano comum, mas nesse caso não haveria critérios para resolver a questão.

Isso que eu falei pode parecer óbvio, mas minha intenção é apenas mostrar que certo tipo de conhecimento é apenas válido se você tem a predisposição de concordar com o que está sendo dito. No caso de Adorno (ou no meu e do diretor), só poderíamos dizer: "É, tenho a mesma opinião." Ou então, "Não acho isso.". E é até difícil encontrar dados empíricos para anular um dos argumentos, pra piorar ainda mais. Podemos encontrar vários casos que falseiam quaisquer uma das hipóteses, e ainda sim reagir com compaixão, vociferando: "Mas não é esse o contexto."

O título desse post está inadequado também. Não há erro de Adorno, porque nunca houve espaço para acerto. O jogo que ele joga não é avaliado por esses critérios lógicos, mas pelos do carisma e da tradição. Adorno não é irracional: seu problema está na aplicação de certos nomes e o que eles significam (alienação, fetichismo - a ideologia marxista fundamenta quase tudo). Para muitos, a correlação entre tais conceitos e algo presente na realidade é certa. Mas para uma grande parte, está muito longe de ser verdade.

E não adianta falar que somos reféns do sistema. Rudolf Carnap - conhecido pelo entusiasmo com ciência e lógica para o entendimento do mundo - era comunista. Na verdade, acredito que qualquer pessoa de esquerda deveria fazer o mesmo, se quiser levar o projeto de Marx adiante. Não sei como ficar delirando a la Adorno serviria para contribuir para o fim da luta de classes.

Prefiro conhecimento que você não precisa "acreditar nele pra ser verdade". Muitos questionam a existência de um mundo real, dizendo que ele é o que você imagina. Queria que fosse assim, para eu poder desimaginar a lei da gravidade e sair voando por aí LOL

Brincadeiras à parte, nada contra Adorno ter essa opinião polêmica. Mas ele podia pelo menos mostrar o lado oposto, da "revolução espontânea". Ele não o fez, pois como disse Walter Benjamin no começo de um ensaio, é um teoria "fascista" da estética . Pode-se comparar com as duas tradições de pensamento que norteiam a sociologia: a interpretativa e a estrutural-funcionalista. A primeira seria para Adorno e Benjamin "de direita", enquanto a segunda, uma genuína investigação das desigualdades exibidas pela dialética e teoria crítica. Marxistas de cabeça fechada, esses dois.

Faz parte da educação humana

"Uma pessoa que não pode fazer certa quantidade de trabalho estereotipado não é um indivíduo saudável."
George Herbert Mead
Na vida, nem tudo são flores. Não se pode fazer sempre o que quer, e saber ceder é tão importante quanto valorizar o ganho.