quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

O humor e o status

Obama contando uma piada idiota. O sujeito ao lado força a risada porque Obama é o  Presidente.


Agora há pouco Noemí, a estagiária que trabalha comigo, relatou um caso interessante:

Ela estava passando no corredor do Ministério, quando se deparou com um número expressivo de pessoas "de bobeira" no corredor. Nesse momento, o Conselheiro, chefe da Divisão na qual trabalhamos, também passava por ali e soltou uma "piada":

- É bloco de rua?

O pessoal riu.

Noemí, ao me contar essa história, comentou:

- Se fosse eu falando isso, todos ficariam assim: ¬ ¬ (cara séria) , mas como foi o Conselheiro, todos riram!


Fiquei a pensar no números de piadas imbecis que são contadas por pessoas com status, e são falsamente apreciadas!


quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

A sociologia é conservadora?


Zoe Crawford, ativista do PETA, se fingindo de churrasco.


Ao ler a chamada de uma notícia do G1[1], fiquei pensando no que motiva uma pessoa a participar de uma organização como o PETA. Na minha cabeça, é simplesmente ridículo tentar convencer o mundo a não comer carne e a tratar animais como a ONU quer que tratemos seres humanos.

Mais ridículo ainda é se fantasiar de “churrasco” no meio da rua em Sydney achando que vai chegar alguém e se converter, ao olhar a cena e pensar: “É mesmo, carne humana é igual a carne de boi. Melhor parar de comer”.

No entanto, cabe olhar para o sentido da palavra “ridículo” aí. Significa, em última instância, incompreensível. Não entra em nossa cabeça o porquê da atitude. “Falta do que fazer”, “perda de tempo”, são um dos clichês usados para criticar.

Mas, claro, todas nossas tramas políticas podem ser elevadas à ridicularidade! É muito fácil classificá-las como fúteis. Mas achar que temos que justificar o que fazemos é um dos grandes sintomas da doença moderna.

Olhando para o movimento Marcha da Maconha, logo falamos que há tantas coisas mais importantes, e as pessoas gastando seu tempo com isso! Também se critica o governo assim: perseguem maconheiros enquanto há estupradores e homicidas soltos por aí. Mas o mundo humano é mais complexo, muito do que acontece é mal pensado e não conseguimos justificar. O mundo moderno passou a encontrar mais idiotices correndo soltas!


É difícil entender as motivações políticas das pessoas em muitos casos[2]. Weber, ao pensar nas ações humanas, cunhou o termo wertrationalität, ou razão voltada ao fim em si, e não na relação com o meio. No caso da ativista do PETA, ela agiu pensando no seu ideal de mundo (animais e humanos amiguinhos), sem considerar a melhor forma de atingi-lo (ou considerando menos a zweckrationalität, que é razão voltada à relação meio-fim).

E realmente, pensando em nossas ações políticas (se é que temos), elas não poderiam ser consideradas ridículas? Talvez o papel da sociologia seja mostrar o quão ridículo a ação política é. Porque, se ela deu certo, a conjuntura histórica a justifica, e se deu errado, também! Poderíamos deixar a onda da história nos levar, sem precisar do esforço do nado!

Mas minha conclusão é mais clínica: não faz sentido chamar a sociologia de conservadora ou progressista. Olhando para minhas ações políticas, fica claro que elas não têm nada de sociológico. Elas têm muito é de humano! O campo sociológico é totalmente distinto do campo político, ao vermos política na sociologia, matamos ela.[3]



PS: ao terminar o texto, me surgiu uma das conseqüências de se estudar Ciências Humanas por tanto tempo (no meu caso, 8 anos seguidos até agora). As palavras vão ficando insuficientes para o que se deseja expressar! Talvez por isso que certos autores sejam tão prolixos.


[2] No auge da razão, é difícil entender QUALQUER motivação política! O budismo e o liberalismo, ambos articulam nessa direção. Mas isso fica pra outro texto...
[3] Mas claro que a frase “Toda a sociologia é política” está correta! Mas ao conseguirmos identificar as partes políticas, devemos remediar o dano ou então ignorá-lo, danificando o material sociológico.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Carta ao Professor Edson Silva


Reproduzo carta escrita, inspirada por uma discussão filosófica nauseante durante a aula :P


Você me envenenou! Impingiu meu pensamento com ventos intempestivos imoladores. E engraçado que no meio de tanta turbulência, a questão central possui certa plenitude cósmica. Não há deslocamento ou divisão nesse terreno. Ele se reproduz continuamente, e a natureza dessa substância vem dela própria. Talvez o eterno retorno do mesmo (Nietzsche) valha também para esse caso. A contingência se reproduz, e dela somente arbitramos para poder conhecer qualquer coisa! “Sem registro não há diferenciação”.

Agora, certo, isso é sabido. Mas devemos deixar isso afetar a produção de conhecimento? Será que a sociologia deve circular tanto por essa lei epistemológica? Ela não está muito separada da realidade social? O homem há muito tempo “criou” códigos, e a partir de então, soube simbolizar. Daí surgiram todas as possibilidades de ingerência lingüística. E qual o peso disso em nossos trabalhos? Quer dizer que o trabalho sociológico busca analisar tais movimentos de ingerência enquanto sujeitos a um processo sócio-histórico?

Concordaria com tal abordagem na medida em que não no esquecêssemos das faculdades do entendimento: o homem não opera na contingência enquanto sujeito da ação. Ou melhor: para operar na contingência, devemos exterminá-la! A ação pode até se operar no entorno  de sistemas, mas qual seu valor científico – epistemológico – nesse caso?
Voltando às faculdades do entendimento, esse modelo não seria uma premissa para dar partida a qualquer produção científica? A partir do momento que as reconhecemos (mesmo sem conferir legitimidade), já não desvelamos nossa qualidade de “conhecedor”?
Ou seja, a razão crítica legitima a própria razão! Os sistemas psíquicos possuem a intencionalidade como fundamento autopoiético! Como diria Wittgenstein, podemos apenas apontar para isso. Não há mais o que fazer!

AAAAAA (melhor fazer um encerramento operativo)
Bruno

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

O que é metateoria?

Ontem, em uma pequena travessia de carro pela Asa Sul (bairro de Brasília), fui invadido pelo conceito de metateoria. E o que seria? É uma visão de mundo, uma << religião epistemológica >> hehe.

A metateoria abarca as teorias e as confere legitimidade. Se não seguirmos uma metateoria, as teorias ficam desacreditadas.

Exemplo: acredito que Marx e Freud estejam inseridos na metateoria do discurso biológico científico/moderno. Ou seja, suas ideias foram feitas à luz de certos axiomas/dogmas/postulados...
Vejamos alguns:
1) "Lei do mais forte" ou
"Sobrevivência do mais apto" (termo cunhado por Spencer)
2) "Seleção natural" ou
"Evolução"
3) Ações e pensamentos são gerados por sua inserção nessa conjuntura de "selva" (luta pela sobrevivência e procriação daquilo mais forte)

Assim, para Marx os fortes dominam os fracos e para Freud o sexo define muitas coisas em nossa vida!!!

[ enquanto escrevia esse texto, escutava o seguinte álbum, um clássico do rock, Frank Zappa pode ser considerado um semideus LOL ! ]


quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Retrato de um assassino - Adam Lanza parte 2


Freud utilizou a ideia de ambivalência em sua teoria.


Para Freud, muitas neuras psicológicas que parecem opostas possuem a mesma raiz. Por exemplo, aqueles muito bagunceiros e os obsessivos com organização podem ter tido experiências semelhantes que precederam seus comportamentos. A isso chamamos na psicanálise de ambivalência, que “designa a coexistência de atitudes afetivas opostas frente a um objeto, e particularmente a coexistência do amor e ódio em uma mesma pessoa”.[1]
Ou seja, certa experiência pode levar a opiniões e atitudes opostas: ame ou odeie, suje ou limpe, organize ou bagunce, etc.
O caso de Adam Lanza
Adam foi criado nos Estados Unidos em uma pequena cidade. Foi um garoto tímido e introspectivo, que falava pouco e possuía fobia social. Ele era muito diferente de seus conterrâneos! O adolescente médio de sua cidade não era tão calado, possuía alguns amigos e seguia a vida social no eixo família-escola. Adam era diferente, ou acreditava ser. Não tinha o número de amigos que os outros tinham, e nem a facilidade para o diálogo. Em casa, não havia o reconhecimento dos outros (mãe, irmão, pai) como uma pessoa de igual nível, mas como seres diferentes (inferiores ou superiores, dá no mesmo!) com os quais a amizade não surgia. Somente a necessidade de convívio.
Adam conviveu com a liberdade desde sempre, pois nunca foi constrangido a mudar! Sua sociedade tolerava sua conduta diferente, como muitas vezes acontece no Ocidente (permitir a existência dos esquisitos). Sequer bullying ele sofria! Era somente deixado a ser o que era.
A liberdade extrema que Adam vivenciou levou-o a uma conclusão fatal: a morte é a maior forma de liberdade a ser atingida. A morte liberta. Ao matar vários, Lanza acreditou estar liberando eles de uma vida vazia. Afinal, pra que serve a liberdade se não há escolhas melhores, se podemos ser esquisitos e os outros não lidarem com isso?
Dessa forma, a experiência de liberdade de Lanza (sua aceitação no meio, mesmo sendo diferente) o levou à possibilidade de atingir o ápice do conceito: o poder de morte em mãos e a escolha de usá-lo (sentindo assim a liberdade), libertando os corpos terrenos desse mundo. Mas não consideramos privar alguém de sua vida a maior ofensa à sua liberdade? Ou será que Lanza está certo? – Melhor ser um morto livre, do que um escravo vivo.


[1] Fonte: http://www.universalis.fr/encyclopedie/ambivalence-psychanalyse/