quinta-feira, 14 de março de 2013

Ciências Sociais e Emancipação

O verdadeiro poder emancipatório das Ciências Sociais está no olhar clínico, e não na imaginação fértil!
(pelo menos ela entretém hehe).

sexta-feira, 8 de março de 2013

H.P. Lovecraft – O estrangeiro; Análise


 "A coisa mais piedosa do mundo, penso, é a incapacidade da mente humana de correlacionar todo seu conteúdo." O Chamado de Cthullu

Estive a ler alguns contos do mestre da ficção macabra Lovecraft. Ele foi uma das referências para o escritor de horror moderno Stephen King, e continua sendo aplaudido por sua qualidade. Alguns produtos culturais modernos são decorrentes de sua obra: bandas de death metal, jogos de RPG e videogame; oferecem continuidade ao seu legado.

Um dos contos que mais chamou minha atenção foi The Outsider. Encontrei uma versão traduzida para o português à venda, em formato netbook. É um dos contos mais inspirados por Edgar Allan Poe, de quem Lovecraft era fã. 

O conto apresenta um apologia ao esoterismo, seguida de decepção em relação a este. Vejamos:

O protagonista é um ser que mora em um castelo, desde que se entende como "gente". Não se lembra de nenhuma outra pessoa, nenhum contato com outro. Sempre esteve no castelo. E nunca conseguiu sair de lá, pois era rodeado por uma floresta da qual tinha medo de se aventurar por muito tempo. Ele sabia da existência do mundo anterior por uma coleção de livros antigos, os quais lia com uma vela. Nunca tinha visto o sol: o céu era escondido por uma densa camada de árvores. Viveu na escuridão, além do fluxo do tempo.

O protagonista vivia no mundo "exotérico": do conhecimento raso, desconhecendo o verdadeiro conhecimento, a iluminação. Seu mundo era escuro, e tudo que sabia não lhe causava orgulho. O importante estava além dele (fora da caverna de Platão), e para chegar lá era necessário esforço. A verdade está lá fora. Mas não é fácil de ser encontrada! Eis o esoterismo: crer em um conhecimento de grande valor, de difícil acesso (mas que existe).

Havia apenas uma torre que se estendia além da camada arbórea. Mas era impossível subir, a escada estava quebrada...

Sem me estender sobre a história... (melhor ler o conto!) Apenas digo que a metáfora segue: o conhecimento de valor é atingido, uma grande comoção acontece. Mas e então... Pimba! Eis que o lado de fora não é tão bom assim, as verdades reveladas são contundentes, sombrias e desanimadoras (para não falar desastrosas, lamentáveis e aterrorizadoras). Tentar voltar ao mundo anterior, do estado estoico de passividade em relação ao passar do tempo, sem abalos positivos nem negativos, já não é possível: ao perscrutar a verdade, voltar para a ignorância já não é mais possível!

É um conto de mágoa em relação à realidade. Seria a verdade dura e cruel, e o melhor nos mantermos isolados dela, em nossos "pântanos de felicidade"? A literatura de Lovecraft expressa uma forte concepção de universo indiferente aos pequenos humanos que o habitam... Vários de seus personagens sentem isso na pele (vivem essa verdade). O que é fonte de loucura!


sexta-feira, 1 de março de 2013

Problema endêmico no Itamaraty: entre o erudito e o gestor


Se há um problema administrativo que o caso do “assédio moral” no Consulado em Sydney traz à tona, é o da competência dos diplomatas quanto à gestão humana. Não podemos deixar de lado o fato de o Ministério ser uma organização, com todos os problemas acarretados pela convivência “forçada” de indivíduos: dissensos ocorrem com freqüência, e viver respeitando a diversidade de personalidades é uma tarefa complexa.
Tendo isso em mente, é sensato pensar que os administradores deveriam ter um treinamento na área de gestão e recursos humanos, nem que seja do mais raso, para conseguir abarcar problemas organizacionais referentes ao capital humano. E quem são os administradores no Itamaraty? Diplomatas. E podemos ver nos editais para o concurso que não há uma exigência sequer de conhecimento na área de gestão organizacional. O sujeito pode narrar sobre a conjuntura política do Segundo Império, e estar inapto para resolver problemas reais do seu mundo de trabalho.
A falta de tato da administração superior para essa carência (preferem deixá-los “independentes”) faz surgir bizarrices como o caso do Consulado em Sydney: em que organização sensata, estaria uma pessoa como o Sr. Fontenelle “liderando” uma equipe? Claro que não é um problema só do Itamaraty, mas ele está lá de forma marcante: estamos contratando eruditos, que mais satisfazem o perfil de “solitários de escritório”, quando muitas vezes, na competência de administradores, são chamados a resolver conflitos reais intrínsecos ao mundo do trabalho para os quais não estão preparados.