quarta-feira, 12 de março de 2014

A Guerra Fria está de volta... na mídia

Pare e pergunte: "Por que publicar coisas sobre a política americana é mais importante que sobre a política russa?"

Nos dias de trabalho, acompanho uma seleção de notícias internacionais, selecionadas pela Assessoria de Imprensa do Itamaraty. Se elas são de fato as que tomam as frentes das mídias, há algo curioso acontecendo, envolvendo o atual conflito entre Rússia e Ucrânia:

Aparentemente, há uma mobilização de mídias ocidentais (New York Times, Washington Post, Financial Times, The Times, The Guardian, O Globo, Folha de S.Paulo, Estado de S.Paulo, etc.) para colocar a Rússia como vilã da história. Mais especificamente, Putin, o presidente maldoso. A tomada de poder da ex-oposição ucraniana é tomada como fato consumado, e sua legitimidade já foi aceita por essas mídias (e pelo governo norte-americano). Não se questiona essa incursão política, que exilou o ex-presidente ucraniano na Rússia.

Esse alinhamento com interesses políticos ocidentais (o governo ucraniano atual é mais pró-União Europeia que o anterior, alinhado à Rússia) na mídia é perceptível pela seleção das notícias: falam bastante dos bastidores políticos norte-americanos, o que estão decidindo, quais sanções irão tomar, o que o atual governo ucraniano está fazendo para se defender dos russos, visões de analistas, etc.

A maioria das notícias e artigos publicados toma como ponto de partida uma familiaridade do leitor com a política externa desse bloco anti-Rússia. As políticas russas são muito pouco abordadas, como se fossem "alienígenas". Os russos são os "outros", que estão invadindo o "nós", do qual os atuais soberanos da Ucrânia fazem parte.

O que se passa na Rússia é mais misterioso do que no bloco adversário, e assim fica mais fácil condená-la. A Guerra Fria, nesse sentido, não acabou. Há uma grande mídia servindo como agente dos interesses políticos dos Estados Unidos e União Europeia, mobilizando a opinião pública para enchê-la de informações seletivas: muita coisa sobre o lado ocidental, e pouca sobre o oriental.