quinta-feira, 14 de novembro de 2013

A Roda de Usuários

No Plano Piloto, zona central de Brasília constituída pela Asa Norte e Asa Sul (a definição exata é controversa), é comum encontrarmos pelas quadras grupos de pessoas interagindo no formato "roda". Elas estão fumando maconha.

Ao contrário de muitas cidades, o Plano Piloto não tem ruas: temos o asfalto e carros passando por cima, mas elas não seguem o padrão rua-calçada-construção. Há muitas áreas verdes (espaços ermos ocupados pela "natureza") e poucos pedestres. Geralmente as pessoas andam de carro, então estacionam próximo a onde querem ir e mal caminham. Quem vai de ônibus pode tomar vários caminhos diferentes entre as diversas áreas verdes. Como resultado, quase não tem gente no meio das Superquadras - a área residencial típica do Plano Piloto - e pode-se fumar maconha sem o stress de ver gente olhando com maus olhos.

Assim há uma relação entre características estruturais do Plano Piloto (ausência da rua tradicional, muita área verde, distinção entre espaços residenciais e comerciais) e agenciais (pouca gente andando nas ruas) que confere pouca publicidade ao ato de estar fumando maconha - algo malvisto - fora da própria casa.

As classes médias do Plano Piloto se aproveitam da situação para se encontrar para fumar em diversas Superquadras. Algumas são evitadas, como a 402 Sul, por se tratar de "quadra de militar". Na Asa Sul, prefere-se as 400, por seus prédios não terem porteiro, e também o começo das 700, por haver uma área verde intermediária entre as casas (nessa linha há casas, e não prédio como no geral). Contudo não há imperativos, e no geral se fuma em qualquer quadra, principalmente se não se formar a roda em si, apenas sentar em um banco e ficar fumando como quem não quer nada.

Também há os "campões", grandes áreas verdes que separam quadras, que muitas vezes são utilizados como ponto de encontro. Muitas vezes desconhecidos intervêm para pedir um trago e fumar conjuntamente. O usuário de maconha classe média do Plano Piloto quase nunca se preocupa com polícia, que poucas vezes corre atrás de tais usuários. Mas para evitar possíveis inconveniências, costuma-se carregar apenas uma pequena parcela, e esconder nas áreas verdes os "flagrantes", durante o consumo do baseado da vez.

Essa Brasília é uma cidade convidativa para os maconheiros, que fumam com liberdade no espaço público, e aproveitam um contato com a natureza (as áreas verdes) que poucas grandes cidades têm. Não é como Belo Horizonte, onde muitas vezes é preciso "fumar andando".

A foto acima foi tirada de um bar. Como podemos ver, há uma área verde que separa o fotógrafo da roda, algo típico da cidade. Além disso, pouca calçada, o que reflete a baixa quantidade de transeuntes. O prédio residencial está ao fundo. Para essas pessoas, foi muito fácil sair do bar, fumar um baseado e voltar: precisaram andar 20 metros e já estavam em um lugar apropriado.





segunda-feira, 4 de novembro de 2013

O que não se pode vender hoje?

Duas coisas me chamam a atenção: drogas e coisas relacionadas ao nazismo.
Li hoje essa notícia, e não entendi:

 
Portal de leilões se desculpa e suspende comercialização de 30 peças de vítimas de campos nazistas de extermínio
Um uniforme completo, um par de sapatos e braçadeiras com a estrela de Davi estavam entre artigos disponíveis
 
DE SÃO PAULO
 
Uma reportagem da edição dominical do jornal britânico "Daily Mail" mostrou que o eBay, site de leilões online, estava lucrando com a venda de artigos relacionados ao Holocausto, massacre de judeus por nazistas durante a Segunda Guerra (1939-1945).
Após uma "investigação urgente", em poucas horas o eBay suspendeu a comercialização das peças, se desculpou e prometeu fazer uma doação de 25 mil libras (quase R$ 90 mil) para caridade.
Entre os cerca de 30 itens encontrados pelo jornal, estava um uniforme que teria pertencido a um padeiro polonês que morreu em Auschwitz --à venda por cerca de R$ 40 mil. A lista também incluía sapatos e braçadeiras com a estrela de Davi. A empresa recebe comissão sobre os itens vendidos.
Ontem, porém, a Folha entrou no site e encontrou à venda fotos, documentos e etiquetas de identificação em metal de prisioneiros dos campos nazistas.
Segundo o "Daily Mail", a assessoria do eBay informou não saber há quanto tempo os artigos estavam no ar.
"Não permitimos anúncios desta natureza. Milhares de funcionários trabalham no policiamento do site, e utilizamos o que há de mais recente em tecnologia para detectar itens que não deveriam estar à venda."

E por que não se pode lucrar com algo do gênero? Enfim, essa imoralidade torna o Holocausto algo "sagrado", intocado pela lógica de mercado que desmistifica um monte de coisas (tudo que se pode vender e comprar - até visualizações do Youtube são compráveis). 
Como resultado, temos uma atitude bastante emotiva, que abala o espírito, ao tratarmos de Holocausto. Uma das consequências políticas é uma censura latente que barra críticas a Israel. Criticar esse país é para alguns ser anti-semita (o que é extremamente imoral pelos padrões do pós-guerra).

A questão das drogas também mostra a relação [fora do mercado => mistificação]. Quem está ausente desse mundo por vezes tem uma opinião que não reflete a realidade, mitos que o ocultismo do consumo de tais produtos acaba por gerar.