segunda-feira, 25 de junho de 2012

Porque ser contra a greve

As recentes manifestações do sindicato do Itamaraty, em conjunto com uma série de outras entidades, em prol de uma campanha salarial (com possíveis greves) mostra o labirinto social em que se localiza o Brasil. No grupo dos “trabalhadores”, temos uma parte com um sindicato forte, que se mobiliza com organização, efetua greves e consegue respostas do governo central às suas demandas. Os outros trabalhadores, em comparação àqueles, são marginalizados pelas dificuldades em se organizarem, trabalham mais horas e têm menos autonomia e possibilidades de escolha do que fazer com suas vidas. A diferença salarial entre os grupos é expressiva. Essa desigualdade é legitimada pelo valor da meritocracia. Mas pouca atenção é dada ao fato do grupo menos favorecido ter menos vantagem nessa competição.

Nos últimos dez anos, poucas medidas foram eficazes em reduzir essa desigualdade de competição: na querela principal, o fosso entre a qualidade do ensino público e privado é grande. Para os grupos subalternos, a necessidade de trabalhar muitas vezes impede o processo educacional.
 E a maior parte da euforia do crescimento, da melhoria da qualidade de vida, que o brasileiro vivenciou no século XXI decorreu, temo dizer, de uma melhoria da conjuntura externa (fatores econômicos favoráveis) aliada a uma política fiscal mais rígida (cristalizada na Lei de Responsabilidade Fiscal).




 As políticas econômicas do PT seguiram uma prescrição ortodoxa, ao terem ligações róseas com o comércio internacional e não representarem ruptura com o modelo anterior (mas tiveram mais respeito com o patrimônio nacional). Não houve investidas redistributivas.
 Podemos sintetizá-las no que disse Lula a respeito de seu governo: “Os pobres ficaram menos pobres, e os ricos não ficaram menos ricos”.
 Mas ao que tudo indica, esse modelo de crescimento baseado no comércio exterior está se esgotando. A conjuntura internacional está bem pior do que há dez anos. E não parece que irá melhorar. O crescimento deverá se fundamentar em uma melhoria de questões como infraestrutura, produção e consumo interno. O Brasil deve se voltar para dentro e dialogar com problemas seculares (desde a época colonial importamos coisas que poderiam ser produzidas aqui).
Para o grupo de trabalhadores menos privilegiados, esse crescimento é o único horizonte à vista de uma melhoria na qualidade de vida. Em longo prazo, entre as várias gerações, é a única esperança atualmente visível para uma redução na desigualdade.
Mas para atingi-lo agora, parece ser necessário uso mais parcimonioso do dinheiro público, para garantir investimentos essenciais. Um uso desse dinheiro para garantir mais benfeitorias aos trabalhadores mais abastados iria de encontro à difícil tarefa de reduzir a desigualdade no Brasil.

O que é Corporativismo no Serviço Público?

Quando se fala que o serviço público brasileiro (federal principalmente) é corporativista, significa que suas atuações, preocupações e demandas profissionais estão centradas em um grupo menor do que deveria estar. Na maior parte dos casos o grupo menor é a classe profissional e o grupo maior (tratado à revelia) é a sociedade brasileira.


Isso significa, por exemplo, que lutas sindicais por aumento de salário são vistas como "essenciais para o Brasil/qualidade do trabalho/honra do servidor/etc", e no entanto podem ter o efeito contrário na saúde econômica, e por consequência, social da nação!


O processo é muitas vezes inconsciente, como mostra o discurso dos sindicalistas e grevistas do serviço público federal.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

O que é uma lombra parte 2

"Pô cara, você tá curtindo lombra!"


No post anterior eu discuti o que seria uma lombra. Entretanto discorri apenas sobre seu viés positivo , o contexto de lombra agradável. A palavra pode ser usada também em sentido negativo, segundo a equação:

Lombra = Expectativa 'a' em relação a um evento 'x' + redirecionamento do evento 'x' por um caminho 'não-a' por um determinado objeto.

Exemplo:
1. Pedro Bola deseja uma Antartica , e pede para Madolfo (o objeto) ir buscá-la.
2. Bola espera que Madolfo vá até a geladeira e pegue uma Antartica (expectativa 'a' em relação a um evento 'x')
3. Madolfo vai até a geladeira (evento 'x'), mas traz uma Kaiser (redirecionamento que contraria a expectativa 'a').
4. Ao receber a Kaiser, Bola inconformado resmunga: "Porra lombrou hein véio!"


Existem mais nuances nessa lombra, que espero um dia esclarecer. (poxa acho q acabei de encontrar um sentido que não se encaixa nem no sentido do post 1 nem no sentido desse post! )

quinta-feira, 21 de junho de 2012

O que é uma lombra?

Finalmente cheguei à equação que disseca o que é uma lombra. Segue:

Lombra = Logocentrismo + quebra do logos vigente com valência positiva.

Elaborei em um outro post o que seria logocentrismo. No texto afirmei que seria a tendência em pensar o discurso da filosofia e ciência, baseado na lógica e razão, como superior a outros, como da literatura e arte.

Mas há outro <<sentido>>, o da tendência em se acomodar por um determinado estado de espírito em uma dada conjuntura, sentindo dificuldades com ondulações desse estado. Nessa visão, lógica ou logos assume o sentido de sistema de signos, quadro de referência, estrutura semiológica ou qual seja o nome que se dê àquilo que está no cerne da ideologia pós-estruturalista:

O sentido de qualquer coisa, ou qualquer forma de conhecimento, só é possível em relação a outras coisas dentro de uma estrutura 'x'. Os objetos dentro de 'x' interagem mediante um logos 'y'.


Linguagem e todo o conhecimento derivado dela, experiências religiosas, só têm sentido mediante um enquadramento em uma estrutura!


O melhor exemplo de como o logocentrismo age nesse sentido é no nosso período pré-sono: quando estamos quase dormindo, ficamos em um estado tranquilo, submerso em pensamentos. Se tomamos um susto, é difícil voltar logo para a tranquilidade!

E o que isso tem a ver com lombra? Tudo, porque a lombra é aquilo que é "inesperado e bom". Pronto resumi. [me submeti a ser mal-interpretado, mas tudo bem...]

Inesperado = quebra do logos vigente

Bom = valência positiva





quarta-feira, 13 de junho de 2012

O budismo de Nietzsche

Não leve as coisas muito a sério, pois o tempo destrói tudo!

Essa frase tanto Nietzsche quanto um bom budista haveria de concordar.

A diferença é que as prescrições éticas de Nietzsche são mais burguesas (do âmbito do negócio), e as budistas mais camponesas!  (do âmbito do ócio)

Há um texto muito bom sobre Nietzsche e budismo no site Orientalia.  Ainda vou traduzi-lo!

terça-feira, 12 de junho de 2012

Frase de Santo Agostinho sobre política - tem mais de 1500 anos...

"Assim, a cidade terrestre que não vive da fé aspira à paz terrena e o fim que ela atribui à missão da autoridade e da sujeição, entre cidadãos, é que haja, quanto aos interesses desta vida mortal, um certo concerto das vontades humanas."


Não mudou muito de lá pra cá. A política é a arte de apaziguar conflitos!

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Resumo da Rio+20

Os meios justificam os fins.


É uma grande rotação retórica essa narrativa de Rio+20. Gira-se até ficar tonto. Quem quiser mergulhar no sentido aparente da história, a questão da sustentabilidade, ficará com a cabeça na areia. Basta olhar para a loucura ambígua que dispõe o evento:

Uma economia sustentável deve, necessariamente, pressupor uma sociedade civil sustentável. Isto é, as práticas ecológicas devem permear o mundo das massas, não bastando restringir-se à elite. Atenção ao termo "sociedade civil": onde ela não existe, não há preocupação ecológica, devido ao baixo consumo.

Mas qual é o evento organizado pela sociedade civil? A Cúpula dos Povos , que ocorrerá quase sincronicamente com a Rio+20. Enquanto a Rio+20 é uma iniciativa basicamente de governos e ONU, a Cúpula partiu de ONGs e outros movimentos menos alinhados ao poder do Estado.

Na mídia, toda a atenção é dada à Rio+20, que tem um investimento altíssimo e contará "com mais de 100 Chefes de Estado".

Chegamos ao resumo da ópera: "os meios justificam os fins". A honrada patifaria que encenarão os atores de Estado na Rio+20 darão combustível para o grande fanatismo de racionalismo que dispõe a ideia de sustentabilidade atualmente.Chamo assim porque ela claramente está aquém de questões muito mais prioritárias para os Estados, sendo muitas vezes adversária destas (vide caso Belo Monte).

Rio+20 organizada por Estados. Sustentabilidade será imposta de cima para baixo? Tolice pensar nisso, com esse Sistema Internacional rolando por aí... os meios justificam os fins, os lamentáveis fins que ficam acima dos panos!