segunda-feira, 13 de maio de 2013

Contra o simulacro acadêmico

Ler o mínimo sobre alguma coisa, e imaginar saber o máximo sobre outra ela e outras coisas relacionadas.

Esse é um mote para novos acadêmicos, que desejam se afastar do "Último Tango do Valor". A situação da distribuição de diplomas atual, e "saberes", constitui uma dança de pessoas aprendendo pedaços de conhecimento, por bits de informação.

O que acontece então é a simulação das diversas cópias, do conhecimento fragmentado em um monte de bons autores, mas nos quais não captamos a unidade, alguma coisa que vá constituir um valor. Ficamos regurgitando especificidades, sem cristalizar uma força. 

O bom homem do século XXI, aquele que desejo ser, não tem mais medo desse sectarismo da produção acadêmica. Ele não se importa com seu pequeno disco rígido (cérebro), que não pode absorver muita coisa, e daí pressupõe só poder falar coisas mínimas. Ele vai além dessa máquina distribuidora de diplomas, elabora conteúdo místico por suas experiências, vivas e estruturadas dentro de um mundo de cópia.

O mundo de cópia não está mais para ele. O gravador de CD/DVD foi queimado. Mas ainda resta a memória RAM.

quinta-feira, 9 de maio de 2013

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Na aula de sociologia

Ontem, durante uma aula de teoria sociológica clássica, estávamos debatendo sobre o conceito de "atitude blasé" presente em "As grandes cidades e a vida do espírito" de Georg Simmel. Durante a conversa eu sugeri uma significação que extrapolava o uso do conceito por Simmel. O professor e os outros alunos não gostaram muito, e percebi que eles tinham necessidade de se imaginar no ideário histórico simmeliano.

Penso que seria legal fazer uma filosofia também, bastante produtivo para todos pela chance de chegar a novos territórios conceituais. A história da sociologia pode se mesclar com exercício de filosofia, e claro, também de sociologia - mas essa última estava presente em sala (ainda bem).

Saí da aula pensando a sociologia ser mais ortodoxa em sua relação com os conceitos. É comum nas aulas que quando alguém sugere alguma significação ousada para um conceito, respondam "Ah mas Weber não queria dizer isso." Se limitam ao escrito, quando o mais importante muitas vezes está nas entrelinhas...

Ontem pensei em um pequeno quadro epistemológico:

Conceito = conjunto de significados
Teoria = conjunto de conceitos articulados por certas regras
Doutrina = teoria dogmatizada

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Ética e estética são um só

6.421 É claro que a ética não se deixa exprimir. 
A ética é transcendental.
(Ética e estética são um só.) 
Ludwig Wittgenstein, Tractatus Logico-Philosophicus








(Wittgenstein I)

Após ler o diálogo "A literatura como vontade ou representação" de Kaio Felipe, me voltou à memória o obscuro aforisma "Ética e estética são um só" de Wittgenstein. Os personagens do diálogo não parecem ter em mente a percepção lógicoempirista  do filósofo austríaco. Quero aqui desconstruir o valor do texto de Kaio, para depois resgatá-lo com humor.

Ética busca sugerir uma normatividade, apontar certas ações como devidas e outras como indevidas. No cotidiano, ela aparece na função apelativa da linguagem, palavrões, tom de voz, etc. Quase nunca aparece nas próprias palavras, mas na retórica.

[exemplo de transição]
P: Vamos ao Buda Bar hoje?
R: Hoje é frevo boiola [gay].

Estética lida com experiências e a forma como são vividas. Preocupar-se com ela é pensar como uma audiência irá receber certo conteúdo na mais imediata subjetividade (apreensão dos sentidos e alteração de estado de espírito). No cotidiano aparece como o que se vive significativamente. Todas as experiências significativas têm uma dimensão estética.

OK, avancemos! No exemplo acima, você pode identificar a ética? É fácil porque se sabe que há muitos homens héteros que não gostam de ir a festas GLS. A ética está nessa preferência. Mas suponhamos que nossa sociedade não mostrasse casos como esse. Não veríamos ética nenhuma no exemplo. [ética está contida na estética]

Mas se a base para que esse jogo surja está em nossas experiências significativas, como traçamos a distinção entre o que é significativo ou não? A unidade de medida dessa balança nada mais é que a ética. [a estética está contida na ética]

Saltando para o diálogo de Kaio, os personagens se mostram metafísicos juvenis ao esquecer que na vida real estética e ética são um só. Logicamente, não é possível dizer que Schopenhauer ou qualquer um priorizou uma ou outra por ser tolice crer em uma destilação de nossos critérios avaliativos [ética] e da estreita circunstâncias em que foram formadas [estética] .

Nenhuma obra literária prioriza ética ou estética, porque autor e leitor não conseguem sair do mundo e entrar no território onde uma ou outra são átomos lógicos que conseguem construir proposições além do nonsense.

(Wittgenstein II)

Opa! OK, OK; mas a discussão para os três personagens não foi significativa? Eles certamente não estavam pensando da mesma forma que eu, e talvez até fossem me satirizar por querer me referir ao mundo real...