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terça-feira, 8 de abril de 2014

Porque crítica ideológica é uma questão de gosto

Em um texto anterior, escrevi sobre uma controvérsia que envolve entretenimento e política. Hoje volto a ela, para tratar de um assunto velho e ultrapassado, mas que é interessante de medir seus pontos.
Uma das "armas" mais interessantes dos marxistas é a chamada ideologia, ou a crença em uma configuração mental que faz as pessoas aceitarem seus modos de vida.
Não há nada de errado com essa ideia, afinal, as pessoas crescem em determinados contextos e aprendem a pensar de acordo com o que lhes chega.

Mas a partir daí, quase nada pode ser dito sem ser subjetivo. Qual a ideologia de um discurso x? E a de Fulano? As respostas são uma rede de ideias, que podem estar aliadas com coisas aparentemente opostas. O nazismo tinha nacional-socialismo no nome oficial, e se opunha ao comunismo (também chamado de socialismo real). Um partido comunista governa um dos maiores países capitalistas da Terra. Quem é o dono das ideias, para estabelecer como elas podem se relacionar, e definir com coerência e clareza as diversas doutrinas existentes no planeta?

Não há. Ninguém pode fazer isso. Qualquer um pode inventar uma ideologia. Elas são efêmeras, podem aparecer e sumir num piscar de olhos. Ao que elas se referem, é independente de uma reflexão racional sobre elas. Ninguém falava em ideologia na Idade Média, mas o feudalismo existia. E chamavam seu sistema político de "ordenação divina", e quem somos nós para contrariá-los?

Há um cosmos de ideologias, muitas vezes em um conflito para ver quem fala mais alto. Elas são medidas dentro de uma outra ideologia, ou reflexivamente, por autoanálise. Não há como avaliar qual a melhor sem recorrer a uma ideologia, que também pode ser questionada e por aí vai.

E se não há melhor, torna-se uma questão de preferência: José critica o feudalismo, pois prefere o capitalismo. Adorno critica o capitalismo, pois prefere o utopismo. José e Adorno, um brasileiro e outro alemão, são da mesma ideologia. Uma que analisa as outras. Cada um tem seus seguidores, com práticas distintas. As pessoas têm formas particulares de passar o tempo.

Lembrando que isso é uma redução grosseira do conteúdo das ideologias. Mas realmente aqui o conteúdo não importa. Estou olhando para as "armas": argumentos tentando se erguer como razoáveis. Os choques culturais são cada vez mais raros, mas ainda existem, e estão aí como prova. Não há como dialogar com uma cultura realmente alternativa. 

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

O erro de Adorno em "Fetichismo na Música"

Liberdade sob a ditadura
Todo o clima de liberdade vivido pela juventude praiana da época rolava em plena ditadura. Enquanto os militares impunham à sociedade diversas restrições, nas faixas de areia a atmosfera era de desbunde, o que pode facilmente ser confundido como alienação. Para o diretor do programa, porém, tudo aquilo era uma forma espontânea de resistência. Mellin cita um comentário do cineasta Pepê Cezar, que colaborou com o projeto, para falar sobre o assunto: “Quer uma forma maior de protesto que um cabeludo sem camisa, de shortinho e prancha colorida, atravessando a rua em direção ao mar em meio à toda aquela formalidade imposta?”
- Aquela turma viveu com liberdade em meio à repressão da ditadura. Mesmo com todos os limites impostos, eles pareciam ter menos restrições até do que a sociedade atual, com a nossa loucura de celular, internet e infinitas contas e compromissos. Tinha-se mais tempo pra tudo, principalmente pra “fazer nada”, pra curtir - argumenta o diretor. - O assunto não é debatido com profundidade no programa, mas a ditadura é citada em alguns momentos, principalmente quando falam do Arpoador e do Pier de Ipanema, lugares muito próximos do asfalto, controlado então pela ditadura, mas que eram também refúgios da repressão.


Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/cultura/revista-da-tv/seriado-aborda-cultura-de-praia-dos-anos-70-sob-olhar-contemporaneo-10223004#ixzz2ghGP0gbL 
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Para Teodoro Adorno, figura conhecida da Teoria Crítica, ou Escola de Frankfurt, o diretor acima está completamente errado. "É alienação!",  diria ele. Seu caso de estudo foi a música, mas seguia o mesmo raciocínio: se entreter é se alienar, por esquecer os problemas que assolam a humanidade.
Mas estaria mesmo o argumento oposto errado? Pra mim e pro diretor do programa, claro que não. Quem está certo, nós ou Adorno?
Resposta: ninguém. Essa pergunta é descabida, pois envolveria cruzar convicções pessoais em um plano comum, mas nesse caso não haveria critérios para resolver a questão.

Isso que eu falei pode parecer óbvio, mas minha intenção é apenas mostrar que certo tipo de conhecimento é apenas válido se você tem a predisposição de concordar com o que está sendo dito. No caso de Adorno (ou no meu e do diretor), só poderíamos dizer: "É, tenho a mesma opinião." Ou então, "Não acho isso.". E é até difícil encontrar dados empíricos para anular um dos argumentos, pra piorar ainda mais. Podemos encontrar vários casos que falseiam quaisquer uma das hipóteses, e ainda sim reagir com compaixão, vociferando: "Mas não é esse o contexto."

O título desse post está inadequado também. Não há erro de Adorno, porque nunca houve espaço para acerto. O jogo que ele joga não é avaliado por esses critérios lógicos, mas pelos do carisma e da tradição. Adorno não é irracional: seu problema está na aplicação de certos nomes e o que eles significam (alienação, fetichismo - a ideologia marxista fundamenta quase tudo). Para muitos, a correlação entre tais conceitos e algo presente na realidade é certa. Mas para uma grande parte, está muito longe de ser verdade.

E não adianta falar que somos reféns do sistema. Rudolf Carnap - conhecido pelo entusiasmo com ciência e lógica para o entendimento do mundo - era comunista. Na verdade, acredito que qualquer pessoa de esquerda deveria fazer o mesmo, se quiser levar o projeto de Marx adiante. Não sei como ficar delirando a la Adorno serviria para contribuir para o fim da luta de classes.

Prefiro conhecimento que você não precisa "acreditar nele pra ser verdade". Muitos questionam a existência de um mundo real, dizendo que ele é o que você imagina. Queria que fosse assim, para eu poder desimaginar a lei da gravidade e sair voando por aí LOL

Brincadeiras à parte, nada contra Adorno ter essa opinião polêmica. Mas ele podia pelo menos mostrar o lado oposto, da "revolução espontânea". Ele não o fez, pois como disse Walter Benjamin no começo de um ensaio, é um teoria "fascista" da estética . Pode-se comparar com as duas tradições de pensamento que norteiam a sociologia: a interpretativa e a estrutural-funcionalista. A primeira seria para Adorno e Benjamin "de direita", enquanto a segunda, uma genuína investigação das desigualdades exibidas pela dialética e teoria crítica. Marxistas de cabeça fechada, esses dois.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

adorno horkheimer e weber

"Pensar a démarche de qualquer processo concreto de produção e organização de conhecimento como absolutamente independente de contextos sociais e psíquicos mais amplos vai no sentido diretamente contrário daquilo que propõem nossos autores na Dialética do Esclarecimento. Em outras palavras, não apenas o conceito de "valores", tal como o utiliza Weber, é insuficiente para Adorno e Horkheimer [...], como, para eles, mesmo os procedimentos lógicos e categoriais de qualquer trabalho intelectual são, sim, dependentes de determinados contextos materiais de fundamentação."
PISSARDO, Carlos Henrique. Os Pressupostos Materialistas da crítica à razão cognitiva na Dialética do Esclarecimento, USP, 2011.

Bom, esse tipo de pensamento não é nem positivo nem negativo para a ciência! Que raio de crítica desnecessária, e que desfaz um eixo de razoabilidade construído pela modernidade (sem miná-lo, pois meras palavras não são capazes de fazê-lo).

Adorno e Horkheimer lembram o arquétipo do adivinho em Assim Falou Zaratustra, que foi devidamente destruído pelo protagonista =)

Na verdade, também considero ambos cristãos enrustidos! Uma espécie de pós-hiper-neoplatonistas. Portadores de metafísica que pode adoecer mentes.