quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Burocaos

A sala estava escura, o ar frio e úmido. Ficava no subsolo, o chão e parede de pedras ciclópicas. Gotas de água pingavam de canos que percorriam o teto. Em alguns cantos se via a terra lutando contra as pedras para ocupar espaço.
Estava cheio de gente, a maioria do próprio governo. Comissionados, os reputados DAS, a nata da burocracia federal. Aliados do Executivo, amigos e parentes, convivas de décadas passadas, que agora vestiam suas roupas formais e comiam salgados finos após essas reuniões.
Estavam ali para a encenação oficial. A presidenta logo iria dar o anúncio formal. A medida foi uma sacada do corpo técnico do Ministério da Fazenda, em coordenação com o Banco Central. Uma elite com credenciais científicas para tais medidas, mas que só três semanas antes teve o estalo que levou até essa sala escura e úmida. ]
A presidenta se sentou, seguida por seus assessores mais próximos, papagaios-mudos. Ouviu-se uma tosse, de um senhor de meio século, alto funcionário do BNDES. No mais, todos estavam com uma melancolia de ressaca. O ânimo do anúncio já tinha se extinguido há alguns dias, e a sala escura não criava expectativas.
O microfone chiou. Deu-se uma batidinha de conserto, seguida por uma leve tosse de reparo de voz. O som presidencial ocupou as caixas de som do ambiente, as gotas d'água ficaram mudas. E houve o anúncio:

- Inauguramos o Programa Mais Burocratas. Importaremos servidores públicos chineses.

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