Cá estava eu pensando na diferença entre individualistas e coletivistas.
Após um tempo de reflexão, cheguei à ideia de que uma diferença crucial é de linguagem: individualistas observam que coletivistas não se veem como agentes fazendo o que eles pensam que é o certo, mas que pode não ser o certo para os outros. Coletivistas (C) acreditam num ordenamento social justo e transcendental, algo objetivo externo às opiniões.
É estranho pensar num C que não pensa assim: se ele acha que seu desejo de sociedade é uma formulação particular, não deixa de ser C? Não passa a ser um I querendo impor seu desejo aos outros indivíduos? Um I autoritário?
Difícil imaginar que ser C não exija senão ingenuidade, ao menos cinismo.
Claro que por trás desse pensamento há a convicção de que não podemos hierarquizar coisas subjetivas; o utilitarismo, por exemplo, afirma que as melhores decisões são as que deixam mais pessoas felizes. E quem possui a régua dos sentimentos? Quem os mede? Mesuras necessariamente autoritárias, não?
Ainda estou a encontrar uma filosofia C que esteja calcada na lógica e racionalidade (ainda preciso ler Carnap -- que pelo que ouvi falar foi positivista lógico e socialista). Pois pelo que vi até hoje, tais princípios apontam que todo exercício de poder -- imposição de opinião, no caso -- é autoritário. O individualismo parece ser uma solução mais lógica, aí: é a busca pelo ambiente onde cada desejo individual se entrelaça sem coações de outros indivíduos, sem alguns ditando nem meios nem fins. Voluntarismo.
E claro que penso que liberdade é o máximo de justiça possível, dada a constelação de misticismos que povoa cada corpo deste mundo.
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sábado, 17 de outubro de 2015
quarta-feira, 6 de maio de 2015
Presos políticos
Certa vez um colega de faculdade me disse que "todo presidiário condenado por roubo/furto é um preso político".
Esse colega é socialista -- de alguma corrente de Esquerda que condena a propriedade privada como ato de violência irracional. Fiquei pensando na sua frase, e no que configuraria uma prisão como política.
Concluí que presos políticos são os encarcerados em razão do grupo dominante na sociedade impor sua ideologia e colocar os que desviam dela, ou que tentam tomar/minimizar o poder do grupo dominante, na cadeia. Isso fica bem claro em casos como o da Venezuela, em que opositores estão aprisionados por "conspiração" ou alguma outra desculpa para tirá-los da arena política e assegurar a manutenção do poder de Maduro e seu grupo.
Contudo, meu colega chamou condenados por furto de presos políticos. É uma opinião heterodoxa na sociedade brasileira -- quase ninguém concordaria com ele, afinal, propriedade privada é um direito praticado pela maioria. No entanto, a maioria não é juíza de certo ou errado; não é só de democracia que a justiça é feita.
Em um âmbito filosófico, podemos chamar qualquer condenação de política, uma vez que segue a doutrina de um grupo que consegue impor suas convicções para a sociedade (nem que seja um grande grupo, ainda assim ele deixa alguns de lado, no caso meu colega).
Infantilidade acreditar na lei como justiça impessoal desinteressada. Claro que reconhecer sua dimensão política não minimiza sua importância na sociedade -- a repressão e opressão* aos desviantes acompanha a história da humanidade.
No Brasil, o problema não são os presos, mas os soltos políticos.
__________
Acredito que devemos nos esforçar para manter o uso da expressão para casos muito desviantes, e tentar fortalecer uma cultura democrática, respeitando a vontade popular e desrespeitando quando ela vai de encontro a direitos de grupos minoritários.
Como disse São Tomás de Aquino, "uma lei que não segue a vontade de Deus não é uma lei, mas um ato de violência". Convertendo para o mundo moderno, afirmo: "leis irracionais devem ir para o lixo".
___
* 'Existe uma interessante proximidade etimológica e conceptual entre "opressão" e "repressão". Se a "opressão" é entendida comummente como uma imposição - por exemplo através de uma força física ou de um exercício extremo de poder -, de uma submissão, a "repressão" remete frequentemente para uma ideia de controlo, redução e sujeição, muitas vezes associada a dimensões psicológicas de ação - como uma auto-opressão voluntária, tal como é explorada na psicanálise enquanto processo mental de inibição ou supressão de desejos. Mas, e seguindo a proposta de Marc Augé (1977, p. 29 e seguintes) de incrementar o escopo de reflexão sobre esse termo, a repressão também pode ser política, associada a problemas de discriminação, violação de direitos humanos, etc. Desse ponto de vista, a ideia de repressão incorpora uma gama mais ampla de significados do que a opressão, tendo a particularidade de individualizar a experiência hegemónica, permitindo refletir sobre o problema simultaneamente num plano político e experiencial.' Ruy Llera Blanes. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-71832012000100011&script=sci_arttext
Esse colega é socialista -- de alguma corrente de Esquerda que condena a propriedade privada como ato de violência irracional. Fiquei pensando na sua frase, e no que configuraria uma prisão como política.
Concluí que presos políticos são os encarcerados em razão do grupo dominante na sociedade impor sua ideologia e colocar os que desviam dela, ou que tentam tomar/minimizar o poder do grupo dominante, na cadeia. Isso fica bem claro em casos como o da Venezuela, em que opositores estão aprisionados por "conspiração" ou alguma outra desculpa para tirá-los da arena política e assegurar a manutenção do poder de Maduro e seu grupo.
Contudo, meu colega chamou condenados por furto de presos políticos. É uma opinião heterodoxa na sociedade brasileira -- quase ninguém concordaria com ele, afinal, propriedade privada é um direito praticado pela maioria. No entanto, a maioria não é juíza de certo ou errado; não é só de democracia que a justiça é feita.
Em um âmbito filosófico, podemos chamar qualquer condenação de política, uma vez que segue a doutrina de um grupo que consegue impor suas convicções para a sociedade (nem que seja um grande grupo, ainda assim ele deixa alguns de lado, no caso meu colega).
Infantilidade acreditar na lei como justiça impessoal desinteressada. Claro que reconhecer sua dimensão política não minimiza sua importância na sociedade -- a repressão e opressão* aos desviantes acompanha a história da humanidade.
No Brasil, o problema não são os presos, mas os soltos políticos.
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Acredito que devemos nos esforçar para manter o uso da expressão para casos muito desviantes, e tentar fortalecer uma cultura democrática, respeitando a vontade popular e desrespeitando quando ela vai de encontro a direitos de grupos minoritários.
Como disse São Tomás de Aquino, "uma lei que não segue a vontade de Deus não é uma lei, mas um ato de violência". Convertendo para o mundo moderno, afirmo: "leis irracionais devem ir para o lixo".
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* 'Existe uma interessante proximidade etimológica e conceptual entre "opressão" e "repressão". Se a "opressão" é entendida comummente como uma imposição - por exemplo através de uma força física ou de um exercício extremo de poder -, de uma submissão, a "repressão" remete frequentemente para uma ideia de controlo, redução e sujeição, muitas vezes associada a dimensões psicológicas de ação - como uma auto-opressão voluntária, tal como é explorada na psicanálise enquanto processo mental de inibição ou supressão de desejos. Mas, e seguindo a proposta de Marc Augé (1977, p. 29 e seguintes) de incrementar o escopo de reflexão sobre esse termo, a repressão também pode ser política, associada a problemas de discriminação, violação de direitos humanos, etc. Desse ponto de vista, a ideia de repressão incorpora uma gama mais ampla de significados do que a opressão, tendo a particularidade de individualizar a experiência hegemónica, permitindo refletir sobre o problema simultaneamente num plano político e experiencial.' Ruy Llera Blanes. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-71832012000100011&script=sci_arttext
quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014
Governo critica imagem do Brasil dada por produto da Adidas
(Escrevi escutando isso.)
Site da empresa nos Estados Unidos oferece peças com mensagens de duplo sentido
Paulo Favero
SÃO PAULO - Uma linha de camisetas da Adidas sobre a Copa do Mundo está gerando polêmica por causa do duplo sentido que o material traz. Ao mesmo tempo que fala de Brasil e da paixão pelo futebol, também reforça o apelo sexual num momento que o governo do País luta para não passar essa imagem internacionalmente. O material causou revolta na Embratur, que promete formalizar nesta terça uma reclamação à empresa alemã de material esportivo.
"Vamos entrar em contato com a direção da Adidas, fazendo um apelo para que reveja essa atitude e tire os produtos do mercado. Essa campanha vai no sentido contrário ao que o Brasil defende", explica Flávio Dino, presidente da Embratur. "Nosso esforço é voltado para a promoção do Brasil pelos atributos naturais e culturais. Uma iniciativa dessas ignora e desrespeita a linha de comunicação que o governo adota."
Uma camiseta apresenta a frase "Lookin’ to score", que pode ser traduzida por "em busca dos gols". Mas também é uma expressão que significa "pegar garotas" de uma maneira mais sexual. A imagem de uma moça de biquíni não deixa dúvidas da dupla intenção. Ela está à venda no site da adidas nos Estados Unidos (www.adidas.com/us/) por US$ 25 (R$ 58,50) e parece fazer parte de uma nova linha.
A outra camiseta coloca um coração amarelo que também pode ser enxergado no formato de nádegas com um fio dental verde. Também passa uma mensagem de duplo sentido e fala "Eu amo o Brasil". No site, custa US$ 22 (R$ 51,50). O portal do jornal O Globo já havia mostrado a peça nesta segunda-feira.
"O governo brasileiro discorda dessa linha de produtos, não aceitamos o turismo sexual. Claro que as pessoas podem namorar durante a Copa, mas não queremos uma mercantilização disso. Acaba sendo inclusive um desserviço à própria marca, porque ela está se associando a um tema muito negativo", comenta Dino.
O presidente da Embratur disse que isso atrapalha a organização do Mundial. "A gente luta para afirmar uma imagem positiva do evento, e isso fortalece os discursos críticos à Copa. O problema é a apropriação disso e deturpação do que pode ser a Copa. Já comunicamos nossas agências espalhadas por 15 países para que façam a divulgação de que não aceitaremos isso."
A Adidas foi procurada pela reportagem do Estado, mas até o fechamento desta matéria ainda não tinha se pronunciado. O caso foi enviado para a matriz da empresa na Alemanha, porque o material é comercializado no exterior e por isso é a sede global que deve se posicionar. A Adidas é patrocinadora oficial da Copa do Mundo.
Sou brasileiro e penso: o povo aqui é muito sexualizado. Já frequentei muitos eventos de massa, tanto de classe alta como de classe baixa. Em ambos o sexo é fundamental. Os homens "caçam" mulheres, tentando dar beijo e possivelmente transar. Mas o normal é só dar beijo, o que implica em beijar várias pessoas diferentes em um mesmo dia.
Não sei se o Brasil é mais sexualizado que outros países, mas com certas as massas aqui se divertem na sexualização. Dificilmente um jovem solteiro mainstream gosta de baladas em que não terá chances de "pegar garot@s". Os eventos de músicas mais populares exalam sexo: funk, forró, axé, house, samba.
O CARNAVAL. Quando era solteiro, aproveitava apenas a dimensão sexual do carnaval, já que detesto música mainstream brasileira (e nem acho ficar bêbado tão legal). Me envolvi na massa, porque o sexo me estimulava.
O sexo faz parte da cultura do país. Temos uma cultura sexualizada. Não é minha cultura, mas essa generalização faz sentido como figura de linguagem (sinédoque, ou a generalização para ilustrar uma ideia). Afinal, não sou um brasileiro médio. Mas posso reconhecer as características de um. Sexo está lá!
Agora, o governo quer esconder isso. Quer negar a cultura do brasileiro médio. Acha que isso causa uma impressão negativa do país. Isso sem dúvida causa impressões errôneas em turistas, que só recebem meia informação, que interpretam de forma distorcida - veem a cultura sexualizada como "sexo fácil". Mas o governo, representando uma ideologia de elite refinada, ao bater de frente com a Adidas está dizendo: "não gosto da cultura brasileira. Prefiro a europeia cristã, de onde importo meus valores".
Talvez esteja na hora da política brasileira ser mais brasileira, e menos europeia cristã, aceitando a nossa cultura sexualizada. Mas não defendo isso ao pé da letra, pois isso resultaria em ter que defender valores conservadores do brasileiro médio. Pois se de um lado há a cultura sexualizada, de outro há a cultura evangélica. Se formos atentar para esse último, prefiro ficar importando ideias europeias para configurar nossa ideologia.
Mas para não ficar expandindo em polêmicas, concluo: a reportagem acima mostra a distorção entre elite e massa, a primeira representando ideologia ausente na multidão, e a segunda tendo práticas vistas como negativas. E nesse caso, a elite não tem poder! Afinal, a cultura brasileira é "lamentável" há quanto tempo, sem que a elite refinada pudesse mudá-la?
Adendo: nessa outra reportagem há uma crítica a uma imagem europeia do Brasil, representada no uso das aspas, que indicam uma ideia com a qual o jornal não concorda (principalmente em "incivilidade"). Já é outra ideologia aqui, mais nacionalista, que tenta desmentir a visão do estrangeiro centrada nos problemas criminais existentes no país. Talvez não seja nacionalismo, mas provincianismo, já que está se tratando mais de Brasília. Há muito pano pra manga aqui, como sempre, mas concluo: ideologias diferentes convivem até na mesma classe social. O nacionalismo e a colonialidade ideológica estão em nossa elite, assim como mais elevada inconsciência crítica (na elite do interior, por exemplo).
Adendo²: os vídeos abaixo também dialoga com o assunto. Aqui, a elite não aparece como importadora de valores, mas como portadora de inteligência, oposta à massa burra que caracterizaria a cultura do brasileiro médio.
O conceito de neymarização é muito bom, PC Siqueira filosofa com grande habilidade nesse vídeo.
Adendo²: os vídeos abaixo também dialoga com o assunto. Aqui, a elite não aparece como importadora de valores, mas como portadora de inteligência, oposta à massa burra que caracterizaria a cultura do brasileiro médio.
quarta-feira, 8 de janeiro de 2014
Aforismas do pessimismo político
A Esquerda realista morreu. A última pá de terra foi jogada em 1991, com o fim da União Soviética. Não há mais alternativas universais para melhorar o mundo, como representou de fato a União Soviética por algumas décadas. Seus filhos não são nem um pouco universais, pontos casuais na geopolítica global. Cuba não tem mais apelo, e Coreia do Norte nunca teve. A China é governada por um partido comunista, mas é um dos países mais capitalistas do universo. Partidos de esquerda e direita não parecem diferentes em suas políticas, todos podem ser rotulados como social-democratas, diferindo no grau, mas não no gênero.
O Marx do socialismo científico está mudo. Antítese ao capitalismo, só na cabeça de alguns, mas com força política zero.
Isso não quer dizer que não há Esquerda. Claro que há. Mas é outra coisa, bem diferente do que fora até 1991 (ou um pouco antes disso). O conflito no Brasil é mais de modernos x antiquados. Movimentos sociais não universalistas, como LGBT, feminista, negro, maconha, etc. são tomados como de esquerda. Pessoas descoladas, anticapitalistas, com pouca malícia no discurso e na ação. Carregam fardos invisíveis da luta pelo mundo melhor, e sabem quem está a favor ou contra. Essa é a principal herança de Marx para essas pessoas: sugaram dele a dialética e o conflito de classes para imaginar um quadro bonitinho no qual rotulam pessoas como maus da direita e os amigos da esquerda. Sobre os primeiros, é melhor ignorar e apenas ressaltar sua direitice.
Modernos x antiquados? Menti. É apenas um fragmento do debate. Talvez mais importante seja aquele dos idealistas otimistas x realistas pessimistas.
É possível, nos anos 10, uma Esquerda realista? Um pessimista responde: "Mais um grupo lutando pelos seus interesses, em meio a vários outros com convicções distintas." Interesses particulares, carentes de um programa universal.
Resumo da ópera: bye-bye comunas, aproximem-se descolados. A Esquerda é vocês, agentes da modernização, defensores inconscientes da Constituição Federal.
Um pessimista ri.
O Marx do socialismo científico está mudo. Antítese ao capitalismo, só na cabeça de alguns, mas com força política zero.
Isso não quer dizer que não há Esquerda. Claro que há. Mas é outra coisa, bem diferente do que fora até 1991 (ou um pouco antes disso). O conflito no Brasil é mais de modernos x antiquados. Movimentos sociais não universalistas, como LGBT, feminista, negro, maconha, etc. são tomados como de esquerda. Pessoas descoladas, anticapitalistas, com pouca malícia no discurso e na ação. Carregam fardos invisíveis da luta pelo mundo melhor, e sabem quem está a favor ou contra. Essa é a principal herança de Marx para essas pessoas: sugaram dele a dialética e o conflito de classes para imaginar um quadro bonitinho no qual rotulam pessoas como maus da direita e os amigos da esquerda. Sobre os primeiros, é melhor ignorar e apenas ressaltar sua direitice.
Modernos x antiquados? Menti. É apenas um fragmento do debate. Talvez mais importante seja aquele dos idealistas otimistas x realistas pessimistas.
É possível, nos anos 10, uma Esquerda realista? Um pessimista responde: "Mais um grupo lutando pelos seus interesses, em meio a vários outros com convicções distintas." Interesses particulares, carentes de um programa universal.
Resumo da ópera: bye-bye comunas, aproximem-se descolados. A Esquerda é vocês, agentes da modernização, defensores inconscientes da Constituição Federal.
Um pessimista ri.
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