segunda-feira, 30 de setembro de 2013

A erupção da comunidade na linguagem

Quanto mais forte uma comunidade, mais consensual ela é. Os indivíduos expressam diversas proposições que outros tomam e discordam, expondo um argumento divergente. No entanto, todas as proposições elaboradas são tomadas à luz do que a comunidade consideraria. Como disse Wittgenstein, não existe linguagem privada. As proposições existem para um indivíduo tomar como objeto e reagir a ela: e quanto mais forte a comunidade, mais convergente será essa reação com sua fonte. Em outras palavras, a linguagem expressada por um indivíduo é sempre elaborada à luz de uma futura audiência, seja ele mesmo, seja um “outro generalizado”, que é a abstração de todas as outras forças que emitem ações significativas. Assim, todas as crenças existem por sermos autoconscientes e empáticos (vemos que outros também têm consciência). Mesmo se acreditamos que ela é “somente uma opinião”, ela foi elaborada à luz de uma audiência (ao menos nós mesmos) que deve aceitá-la. Caso contrário estamos sendo irracionais.
Um bom exemplo de força comunitária que gera consensos é uma partida de futebol: todos os jogadores sabem como se devem portar, quais regras seguir e o como devem reagir em diversas eventualidades, desejáveis ou não. Aqui, há muito menos dissenso do que em uma arena política, ou em uma sala de aula de sociologia nos tempos atuais. Os gestos a serem feitos estão programados, assim como as reações a outros gestos dos demais participantes.
Entender como jogar um jogo, quais regras seguir e o que esperar dos outros, é uma etapa importante na socialização e na composição de um Eu (Mead).
Se a comunidade brasileira fosse uma entidade única, não haveria dissensos jamais. Sobre nada, porque todas nossas concepções são formuladas à luz de uma comunidade (o outro generalizado). É a audiência de nossas expressões.
E com tantos dissensos, nos debates políticos, nos valores culturais, nas visões sociológicas, pergunto: onde está nossa comunidade? Parece que andamos para uma fragmentação social que sabe-se lá no que vai dar. Não sei se era diferente antigamente, mas provavelmente estamos numa era mais plural quanto aos grupos que compõem uma sociedade. O pós-marxismo, por exemplo, abandonou o tradicional dualismo marxista em favor a uma multitude de grupos em conflito pelo poder.
Clamo pelo resgate do consenso e o fortalecimento de nossa comunidade, baseada em valores universais – tolerância, compromisso e diligência.

Autores inspiradores: George Herbert Mead, Erving Goffman, Ludwig Wittgenstein e Jurgen Habermas. E um pouco de Mussolini hehe.

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