quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Executivo, Legislativo e governança

Os recentes eventos envolvendo o novo Presidente da Câmara, Eduardo Cunha e sua inimizade com a Presidenta Dilma Rousseff suscitam um debate sobre o modelo eleitoral brasileiro. Temos no país uma contradição reforçada pela baixa escolaridade brasileira e sua débil politização – pouquíssimos sabem a importância do Congresso Nacional para a agenda política, e do caráter proporcional para as eleições da Casa, onde os votos são utilizados para eleger a coligação, e não a pessoa votada. Soma-se a isso o grande número de partidos de aluguel, sem qualquer programa político concreto, e um sistema que favorece a pulverização do Congresso, sem cláusula de barreira ou cadeiras extras para o partido mais bem votado, e temos uma estrutura de jogo político que desfavorece totalmente grandes reformas no Estado – deputados preocupam-se muito mais em agradar seus redutos eleitorais e maquinar suas alianças, necessárias à governabilidade. A oposição trata-se apenas de reclamar de tudo que o governo faz na esperança de virar governo na próxima eleição.

Um sábio líder chinês disse uma vez que "não importa a cor do gato, desde que cace o rato". Era o início do atual sistema chinês que faz com que o país duplique a economia a cada década. No Brasil, estamos muito longe de uma mentalidade como essa; optamos por um modelo que favorece a contradição de ideias, críticas e o conflito de opiniões e posições políticas dentro do próprio governo. Isso não significa que somos mais democráticos, mas que nossas instituições são menos sólidas. A tomada de decisão governamental é frágil. Quem perde mais com isso é a população, ao ver as políticas públicas se arrastarem a passos de lesma por conta da burocracia e instanciação jurídica. Belo Monte é um ótimo exemplo: passamos por uma crise energética enquanto a usina já poderia estar em uso.

E agora estamos em um contexto de crise econômica e ecológica, tempos que mais demandam celeridade decisória por parte do Estado. E na mesma fase vemos um embate entre Executivo e Legislativo, Dilma x Cunha. Os dois Poderes em total desarmonia. Muito provavelmente Dilma será culpada por tudo, já que o povo brasileiro não sabe da responsabilidade do Legislativo na governança. O Executivo precisa costurar uma coalizão para alavancar medidas de importância nacional. Contudo, essa coalizão demanda a satisfação de interesses particulares dos nichos políticos, que vão de encontro àquelas necessidades nacionais.


Nesse momento, a reflexão sobre modelos políticos torna-se mais pertinente. O parlamentarismo, por exemplo, aproxima mais o Executivo do Legislativo, e pode ser o que mais precisamos para garantir a eficiência das decisões governamentais. Só funcionaria, porém, se a população se conscientizasse mais sobre a importância do Congresso Nacional para a governança de um país no qual 70% da carga tributária vai para o Governo Federal.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Civilidade

Dizer que algo não é civilizado é muitas vezes desculpa para não dizer que se está com vergonha de fazer tal coisa.

p/ + info
[Norbert Elias, O Processo Civilizador]
[Vincent de Gaulejac, As Origens da Vergonha]

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Demagogia (poema chulo)

– demagogia 
talvez seja um pouco de  da minha parte mas...
aquele momento inspirou
tanto quanto um espanto em esperanto

aquilo que eu vi em  mas não calou
talvez (ele) se sentiria um pouco atrás
se não fizesse aquilo que (eu) queria
naquilo que a  disse que faria
mas já era tarde demais
enganei (tu)
com um manso brandensaio
sim, de 


quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Youtube (poema chulo)

Alguns dias no trabalho
De bloqueio e escuridão
O site eu acessava
Mas o vídeo não

Passei alguns momentos
Com tristeza consciente
Perdi o entretenimento
Que via diariamente

Eis que no fim de um dia
O Windows atualizou
Pacotes se instalariam
Modificando o motor

Abri o site na manhã seguinte
Com a esperança matinal
Renascia ali um ouvinte
De entretenimento genial

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Infinite Jest's reference to H.P. Lovecraft

I have just found a nice reference in David Foster Wallace's post-modern novel Infinite Jest to other great writer who I'm very fond of, H.P. Lovecraft.

It's located between page 648 and 651; the scene is on November 13th, YDAU - Kate Gompert & Geoffrey Day discuss It. Day tells Gombert that he had also experienced depressive phenomena in his own way. At first sceptic, Kate increasingly pays attention to his tale, as it is a very similar to how she expresses her suicidal feelings.

First I thought about Lovecraft due to Day's terms along with first-person style:

As the two vibrations combined, it was as if a large dark billowing shape came billowing out of some corner in my mind [...]
Katherine, Kate, it was total horror. it was all horror everywhere, distilled and given form. It rose in me, out of me, summoned somehow by the odd confluence of the fan and those notes. It rose and grew larger and became engulfing and more horrible than I shall ever have the power to convey. I dropped my violin and ran from the room. [...]
It was a bit like a sail, or a small part of the wing of something far too large to be seen in totality. It was total psychic horror: death, decay, dissolution, cold empty black malevolent lonely voided space. It was the worst thing I have ever confronted.

Furthermore, this horror is conveyed by a specific vibration of Day's violin mixed with the particular sound of a fan's blow's resonance in the window's glass. This reminds of Lovecraft's short story, The Music of Erich Zann.
Finally, in this scene we know that Day has attended Brown University in Providence RI - Lovecraft's beloved homeland, where he spent most of his life.

As I progress in Wallace's epic 1070-page prose, he continues to impress with his multitudinous display of styles and themes. I'd never guess that Lovecraft would be referenced, though it's pretty clear there are no unreasonable expectations for what will come next in this familiarly weird novel - Infinite Jest.





quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Oração por Satã

"Deus, por favor, rogo-Lhe a compaixão necessária com aquele humilde servo. Tende piedade de sua petulância. Pois todos nós, seres vivos, vivemos momentos de escuridão, quando Vossa luz não consegue nos atingir. Anjo ou humano, somos todos imperfeitos perante Vossa elevada altura. Sois a perfeição, e imploro-Lhe pela sabedoria da compaixão perante Vossos servos pecadores. Lúcifer o desafiou, mas o Senhor já perdoou outros pecadores, que gesticularam a penitência e o arrependimento diante de Vossa graça. Dê-lhe essa possibilidade, é o que esse humilde servo pede nessa prece. A Salvação enquanto pecador, Vosso olhar divino para um anjo caído, relegado ao oblívio pelas Eras. Ó Poderoso, peço-Lhe a compaixão perfeita para todos o seres vivos, e a abstenção pelos pecados dos nossos antepassados. Iluminai nossa singela consciência e retirai-nos da Escuridão, nós humanos e todos com livre arbítrio, impotentes perante Vossa Graça. Perdoai Satanael, ó Pai, por seu momento de ignorância e imperfeição diante de Vossa vigilância. Pois todos nós, seres inferiores, passamos por maus momentos, e sabeis que a Bondade perfeita não está em nosso alcance. E defronte a Eternidade ao nosso lado, abdicamos de arrogância, mas somos vítimas de infortúnios. Suplantai tal fraqueza, ó Pai, com vossa imensa Compaixão, e concedei novamente a Salvação àquele pobre servo infeliz, condenado ao Fogo Eterno por um mau momento. Escutai suas preces, e tende-lhe piedade, assim como com todos nós, demais imperfeições danadas pelo mistério da Criação."

"Mas quem reza por Satã? Quem, em dezoito séculos, tivera a simples humanidade para orar pelo pecador que dela precisava mais?" - Mark Twain

terça-feira, 25 de novembro de 2014

Fragmento do diário de Welton Muniz

" Hoje no trabalho presenciei um evento daqueles que causam pesares, mas que também trazem a alegria de saber que não foi com você. Fui logo acometido por um grande alívio e sentimento de superioridade, intensificados pelo código institucional que me exime de qualquer possibilidade – por mais apocalíptica que possa localizar-se a conjuntura da nação – da vicissitude ocorrer sob minha pessoa. O misto de felicidade e comiseração por meu companheiro demitido foi curioso e causou confusão cerebral e linguística. Senti um turbilhão de labirintos darem voltas giroscópicas sobre um centro de gravidade, que no caso seria meu eixo de valores.
Mas agora já está tudo bem. A rotina já voltou, e não houve muitas cerimônias no último dia do meu amigo de Divisão, demitido abruptamente após meia década na repartição. As muitas demissões da empresa terceirizada, responsável por uma pá de serviços baixos, causaram algum ti-ti-ti em dois dias. No terceiro já estava esquecida, afinal se pediu um corte de 30% nos gastos. O clima nacional é bem baixo-astral, ao menos para economistas e demais entendidos. A massa está otimista, graças a Deus. Esse terceiro dia, quando nunca mais veria meu amigo de Divisão, exibe um sentimento purificado. Sei o que é. Já está tudo bem. Posso escrever meu diário e recordar eventos que são sintomas do sistema e do Primeiro Estado, do qual faço parte. Eu sou um herói e um deus. Meus sintomas são as pedras do Olimpo, eu sou um aristocrata. Um burocrata, e nada irá me tirar desse pedestal. Que venham os cortes, as crises. Eu tenho direitos. Eu sou um cidadão, maior que tudo e todos. Meu colega pode ter ido embora, agradeço. É triste ver um companheiro de rotina partir, depois de tantas conversas jogadas fora. Ele também era flamenguista. Mas agradeço a possibilidade de me rever no meu lugar, este canto tão perfumado e acolchoado, protegido do mundo exterior, tão horroroso que tira as pessoas do seu direito de trabalhar onde estão, sem rodeios, direitos à defesa, e sem motivos senão o corte de despesas. Sem possibilidade de se recorrer à Justiça. Até quando o mundo será tão cruel com o povo? Por que o dinheiro não é infinito?"

- W.M., nomeado* e empossado




* Ministério dos Ministros Administrados. Portaria nº 366, de 21 de junho de 2010. Nomeia, em caráter efetivo, em virtude de habilitação no concurso, regulado pelo Edital de 6 de novembro de 2009, de acordo com o artigo 9º, inciso I, da Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990, para exercerem o cargo de Assistente de Performance, da Carreira de Fidalgo-Amanuense, do Quadro Permanente do Ministério dos Ministros Administrados, os candidatos abaixo relacionados [...] e dá outras providências. Diário Oficial União, nº 124, 01 jul 2010; Seção 2, pp. 70. ISSN 1677-7050